Arte de Milo Manara, 1997.

em lugar de carta
nina rizzi

choro meus dedos, que cheiram os teus.
de saber tuas unhas de cor, salteadas.

fecho os olhos de insônia, ânsia.

que passar as noites ao teu lado,
saiba, foir perene verdade.

(pra o antigo alexandre)
*

saltos & anéis


Passei os dias

sem consultar astros e anais

sem rever afáveis linhas

sem colar e degolar figurinhas

sem usar saltos e anéis.


Passei os dias

sem admirar postais

sem chover caleidoscópios

sem mentir que nem Pinóquio

sem lavar mãos e pés.


Passei os dias

alimentando pausas

nas entrelinhas: hi ber nan do...


by hercília fernandes


passei os dias

com saudade

de sua poesia


passei os dias

com cheiro de barro

com terra entre as unhas

sem nenhuma grandiloquência

sem nenhum excesso


passei os dias

entre sorrisos mútuos

a experimentar os lábios

nas palavras iorubás


passei as noites

a contar estrelinhas

a descobrir reticências

a destituir pontos finais


passei aqui

para me saciar

neste salto

em que anelo

o meu olhar


by fernando cisco zappa




2009 consistiu solo fecundo à atividade poética. Alguns poemas existentes em o HF diante do espelho motivaram olhares e novas composições; como os versos, in resposta, do poeta mineiro Fernando Cisco Zappa ao texto “Saltos e anéis”.

Aproveito o post para agradecer a todos os poetas e poetisas da Blogosfera pelas interações vivenciadas neste ano e desejar que 2010 nos chegue ainda mais abundante em imagens, versos e múltiplas criações.

Feliz 2010 a todos e todas!

Névoa


Busquei a essência do teu grito

Inaudível ao meu ouvido

Buscavas a amiga invisível

Busquei a pureza do pássaro

Que ascende em direção ao céu

Buscavas a companheira silenciosa

Era primavera, havia névoa e véu



Mirse Souza

in Meu Lampejo



*Imagem disponível no Google.


___uniVersos femininos


Lena Gal: Canto da manhã


Árido



Ela já não chora mais...

Seus olhos sempre marejados

Não verte a lágrima precisa.

Acha que a vida não vale nada

E segue em passos apressados

tentando antecipar a reta concisa

para decerto converter em óleo,

sagrado, a lágrima que cairá furtiva.


Se houver tempo...

se houver premissa.


by Mirse Souza



Lena Gal: Terra de brisa perfumada



Coisas de mulher



Que mulher jamais aturou

reclamação de chefe mal humorado,

cantada de bêbado atormentado,

bronca de motorista mal educado

ou ciúme doentio de um namorado?


Que mulher nunca sentiu dor

do bife tirado da cutícula,

de cotovelo, parto mental,

por ter feito papel de ridícula

ou pelo fim do caso virtual?


Que mulher jamais ocultou

lágrimas de felicidade,

a sua verdadeira idade,

excesso de adiposidade

ou passar fome por vaidade?


Que mulher nunca teve que dar jeito

numa meia desfiada,

numa amiga bandida,

numa relação falida

ou numa unha lascada?


Que mulher jamais se culpou

pelo filhinho na escola menosprezado,

pela atitude do namorado safado,

por não ter ficado com o bico calado,

por bisbilhotar o celular do amado?


Que mulher nunca

quis vir monge na próxima encarnação,

nem clamou estar farta de chateação?

Lá no fundo, pronta pro que der e vier

sente orgulho por se chamar Mulher.


by Maria Paula Alvim



Indicação de leitura:


As duas criações da artista plástica Lena Gal, aqui expostas, foram localizadas em artigo escrito pela poetisa Nydia Bonetti, publicado no blog Efêmeras letras. Para ler a matéria clique no título do post: Nydia Bonetti conta Lena Gal.

* Quem a vê... não a sabe


arte : Pino Daeni


Quem a vê


terna e pacata


meiga e cordata


olhar sereno


não a conhece



Quem a vê


sobre a sacada


em sonhos debruçada


gesto ameno


sente que não desfalece



Seios proeminentes


escondem pulsações


olhares intermitentes


guardam rios de emoções



Quem a vê


em trajes comportados


sorriso discreto e são


desconhece que provou


o gosto doce do figo


nas vestes naturais de Adão



Úrsula Avner




desnotícias

Charge de Belmonte, publicada originalmente num jornal de São Paulo, em 13 de agosto de 1946.
desnotícias

então era assim a grande guerra.
a blitzkrieg não declarada me persistia
por todos fados de esperânsia;
as colaboracionistas perdiam cabelos,
outras poucas malenas, bustos, muros.

em rastros de bombas se viam quadrinhos,
cinema, ideologias tantas:

que haviam de me meter mais medo ou vingar
se levaram meu velho do exílio?

então era assim, eu não morria,
minguava.
*

Como veem as palavras

Se te trouxesse em palavras seria de barco
ou te traria a pé...
dada a cor da tua pele
que é dura da terra da cor dos teus.
Não, não...te traria mesmo de barco
Tua língua arranhada quando falas amorrr,
diz-me de onde vens-Namor-
Se as palavras aproximassem os poetas
viriam sempre de barrrco.

de-Ser-tão




 Preparando o enterro na rede - Cândido Portinari



para Rosângela e Roseane


aquela terra tem um olhar arenoso
que me toca as entranhas.

uma rede embala os que desistem;
os que persistem, giram sóis
e fecundam-se em luas

: flores de mandacaru.



Lou Vilela in Nudez Poética




Curiosidade:
A flor do mandacaru abre-se à noite. O polinizador nato dos mandacarus é o morcego (Soares Filho in O Fenômeno da Evolução). 


.

Quefazer


Minha vida é o caminhar,

quefazer infinito.


Caminhos de pedras, retas, labirintos...

Dura e pérfida!

Fumaça passa em desalinho.


Minha vida não é a melhor amiga

Nem a pior conselheira...


É a caça do eu perdido em curvas

E a presa tátil nas vigas.


Dirão os que virão:

“Foi mar de ondas claras

em vales profundos”.


[ou...]


“Glória sem brasão

riacho de lágrimas

infortúnios”...


Eu, ao longe, apenas lhes direi:

- Enxergai as folhas no barro,

no pão.


As gotas de orvalho

no prumo,

vale sem promessa,

oceano sem direção.



by hercília fernandes


*Imagem disponível no Google.


lobos

imagem do google


quando lobos da cidade com seus olhos de neon
sobem solitários a ladeira fria do bairro
mesmo que não tenha lua e a noite seja de ventos
pensam em suas vidas na fumaça e no uísque que deixaram nos bares
nas mulheres que beijaram e juraram ser únicas
pensam que amanhã pode ser diferente mesmo sabendo que não
entram em casa e olham suas mulheres
dormindo amassadas e quase puras e os filhos no quarto ao lado

esses lobos viram anjos subitamente
vestem a camiseta branca e escovam seus dentes
como a limpar os restos do pecado
desejam bons sonhos em silêncio
se enroscam em suas mulheres sob o edredon macio

à noite se esquecem e voltam aos lugares perdidos
beijam mais mulheres e bebem mais uísque
marcam seu território com mãos, línguas e histórias inventadas
e a lua aparece azulada e tímida
esses lobos uivam e seus olhos são de neon

Oração de solteira

Santo Antônio, me dê um namorado

carinhoso, fiel, sem ser casado

que celebre cada data importante

e me atenda antes, depois e durante


São Valentim, ser rico não carece,

mas pobretão também ninguém merece

que não associe férias a anzol

e deteste jogo de futebol


Santo Expedito, tudo é possível:

que seja forte e meigo sem ser gay,

que casar lhe seja algo factível

que nunca diga: “ Eu te avisei...”


São Longuinho, quem te procura, acha

não permita que ele fale “menas”

ou tenha as unhas sujas de graxa

se beber, que seja uma dose apenas


São João, paciência é essencial

que ele adore minha mãe, por favor

na cama, amante profissional

a TPM, trate com amor


Meu Pai do Céu, permita que eu peque

faça com que a fonte nunca seque,

livrai-me, Pai, de crises passionais

Amém. Será que exigi demais?



by Maria Paula Alvim




Amigos leitores,


“é chegado o fim do ano”... muitos são os compromissos, por isso o quadro “postagem simplesmente poesia” ficará suspenso até passados esses balanços e balancetes de 2009.


**Imagem extraída do Google.


* Simplesmente azul *


há um azul abstrato
que se deita na claridade
ora discreto cordato
ora repleto de vaidade

azul que lateja entre estrelas
sobeja no mar á luz do sol
azul da chama de muitas velas
da luz que emite o farol

o azul das veias constrange
em dias azulados de inverno
um olho azul petrifica o instante
o corpo azulado fica quente e terno

a pétala azul é poliglota
a geleira azul da montanha o sabe
o azul do jeans que desbota
cobre as águas em contornos de ave

a língua azulada saliva
o amor que ficou no azul
do tempo do breve momento
do vagão que leva hálito sedento

É azul a cor de dentroCor do texto


Úrsula Avner

* imagem do google- sem informação de autoria

Postagem Simplesmente Poesia (19)


Poesia na escola


Substitui uma professora essa semana na disciplina de "Literatura na Escola". Fiquei pensando várias coisas que têm implicação aqui nos nossos blogs, por exemplo: quem é o nosso leitor? E, principalmente, como nos preparamos para sermos leitores de poesia? A primeira pergunta é mais fácil de ser respondida: somos nós, os autores, leitores de nossos poemas. Por uma razão clara, todos publicamos e divulgamos o nosso próprio texto. A segunda pergunta é um pouco mais complexa, e remete à escola e toda a problemática por trás.A experiência tem mostrado que a poesia não recebe espaço adequado nas aulas de leitura na escola.É um gênero literário cujas características são das mais variadas, podendo lançar mão de recursos semânticos, sintáticos e prosódicos.Especialmente nas séries iniciais, as rimas podem ser um recurso não apenas didático como também lúdico. A poesia infantil de Vinícius de Moraes cumpre essas duas funções, pelo menos.

O pato pateta
Pintou o caneco
Surrou a galinha
Bateu no marreco
Pulou do poleiro
No pé do cavalo
Levou um coice
Criou um galo

No entanto, pouco se tem visto professores com um trabalho regular com relação ao uso de poemas como método de ensino. Esse pouco investimento se dá na maioria das vezes em razão do prestígio que outros gêneros ocupam. Ela carece, portanto, de um olhar mais atento no que diz respeito às suas possibilidades e ganhos para os alunos.No ensino fundamental, por exemplo, a poesia deveria ser muito mais explorada. O trabalho de análise pela estilística e a própria sonoridade poderiam muito bem ser aproveitados para uma pedagogia diversificada, onde a valorização não acontece apenas pelo lirismo da obra, mas pela riqueza enquanto potencial de conteúdo. Veja no poema de Sérgio Capparelli (uma discussão sobre bullying, por exemplo).

Não xingue de porca a porca
Ela vai ficar zangada.
Nem diga "deu zebra" à zebra,
Para não ter zebra zebrada.
Ó lesma, não digaa à lesma,
Mesmo estando atrasada.
E burro, não diga ao burro,
Vai fazer uma burrada.
Mas és um estouro, diga à bomba,
ela explode de risada.

O pouco uso de poesia em sala de aula está ligado à sua circulação na sociedade atual. Há tentativas de resgate através de saraus e jograis, cantadores e repentistas e da musicalização de poemas. No entanto, são movimentos esparsos que não afetam a escola a ponto de interferir no ensino de massa. Os tantos blogs de poetas contemporâneos poderiam ser aproveitados para esse trabalho. Veja no poema infantil de Úrsula Avner como um trabalho de alfabetização pode ser feito.

Aranha escala a parede
arranha o teto
tece sua teia
É tiro certo
quando cai em sua casa um inseto
A aranha engole
o coitado do bichinho azarado

Porém, esse parece ser ainda um espaço invisível ao professor, tanto pela pouca divulgação dos blogs, como pela dificuldade tecnológica. Não obstante, a leitura como atividade social já é um problema a ser enfrentado em nosso país. A poesia, nesse caso, é mais uma conseqüência da pouca literatura do povo. Além disso, o que se nota é que a poesia aos poucos se afasta do cotidiano rumo `as academias, tornado-se manifestação de uma elite cultural que se quer responsável pelo saber. A maioria de nós, escritores de blogs poéticos, somos professores. O texto poético continua inacessível à maioria. Mas, se por um lado, o texto poético tende a ter um leitor específico, por outro lado é papel da escola formar esse leitor. Assim, voltamos ao início, qual é a medida de poesia na escola? Gostaria que a resposta fosse positiva, mas seu status, infelizmente, não é.

Tempo (quando eu fizer 40 anos)

A mim que desde a infância venho vindo
como se o meu destino
fosse o exato destino de uma estrela
apelam incríveis coisas:
pintar as unhas, descobrir a nuca,
piscar os olhos, beber.
Tomo o nome de Deus num vão.
Descobri que a seu tempo
vão me chorar e esquecer.
Vinte anos mais vinte é o que tenho,
mulher ocidental que se fosse homem
amaria chamar-se Eliud Jonathan.
Neste exato momento do dia vinte de julho
de mil novecentos e setenta e seis,
o céu é bruma, está frio, estou feia,
acabo de receber um beijo pelo correio.
Quarenta anos: não quero faca nem queijo. Quero a fome.


Este poema é de Adélia Prado. Achei muito oportuno para essa semana
que completo a idade emblemática dos 40 anos. Não tenho problema algum, aliás, em revelar minha idade. Estou entrando naquele momento de vida em que não se tem mais vergonha do mundo.

Era uma vez...



Meu poema
é um tumulto:
a fala
que nele fala
outras vozes
arrasta em alarido

(Ferreira Gullar)




Melhor assim!
Cedo ou tarde
me seria necessária.
Quero um vestido
de manhãs ensolaradas
e sapatos alados.



Naquela noite
serviram-se do melhor vinho da adega.

Era cedo, muito cedo para embriaguês.
E tarde - indiscutivelmente tarde -
para qualquer barulho.

Balbucios distraídos renderam-se
a Baco e a noite, silente e cálida,
pariu suas estrelas, testemunhas
de mundos distintos sem chão.




Espantei os fantasmas
destilei cicuta
um cretino
instigando, dis.puta!


Era tarde, chorei...
exorcismos, re.versos
ao avesso me vi
divino-perverso.


Mergulhei em esgoto
quebrei o mosaico,
uma vida fingida.


Cedo ou tarde, parti...
na mala um uivo
e um punhal
de saudades.



Era uma vez...




Lou Vilela in Nudez Poética
.



Postagem Simplesmente Poesia (18)


Per Augusto & Machina:

tumulto e racionalidade em intimidade



1. é louco ser solene.

....é lúcido ser louco!


2. se tenho, como última morada

....o som caleidoscópico da vida

....carrego matrizes, almas sombreadas.


3. meu coração de cavalo, meu ato de terra

....surrado dos demônios, ímpio em desvario.


4. quando surge de mim, fiquei varrido.

....e meu estado de coisa correu solto!


5. qualquer ambiguidade tem um tônus

....que corta toda a alma pelo avesso!


6. a dor fecunda das hostes:

....vou retomar meus laços com a vida.


(Romério Rômulo in: Abertura 1, p. 13, 2009).


Esta semana, ao retornar de breve viagem, pude sentir a agradável emoção de ter em mãos o livro Per Augusto & Machina, do poeta mineiro Romério Rômulo, lançado recentemente pela editora Altana.

O livro me fora oferecido pelo próprio poeta, que, além de me ofertar a obra com uma deliciosa dedicatória, me encaminhou mais uma de suas criações poéticas: o livro Matéria Bruta, lançado também pela Altana, em 2006.

As obras apresentam notória excelência literária e evidenciam a grandeza imagística e estilístico-semântica do poeta na captação e reverberização dos fenômenos que permeiam a existência humana e a atividade poética.

Além disso, os livros comportam excelência na apresentação visual e gráfica, incluindo ilustrações que, além de enriquecerem o suporte material, contribuem para inquietar o espírito dos leitores durante a apreciação e ressignificação textual. O que demonstra o zelo e o respeito do artista, igualmente da editora, para com a arte poética; apresentando, aos leitores, um suporte de qualidade, criativo e arrojado, compatível à beleza intrínseca à criação literária do artista.

No tocante ao Per Augusto & Machina, o livro apresenta-se composto por poemas que se distribuem em 127 páginas e conta com belíssimo prefácio, intitulado “Uma poética implacável”, escrito pela professora, crítica literária e poetisa Maria da Conceição Paranhos. Leiam-se algumas das falas da literata voltadas ao processo de criação do Per Augusto & Machina:


Romério Rômulo se movimenta num universo de contrastes, em que a experiência vivida testa as realidades estabelecidas em favor de uma lucidez cada vez maior. Suas imagens inquirem as aparências em favor da essência do viver. [...] Desde o título, Per Augusto & Machina, o poeta des-capitaliza os vocábulos, quer rendê-los, observá-los e indagá-los sem mistificação, des-convencionando o arbitrário da língua. Por augusto e sua máquina, em favor de uma realidade mais real, em favor do homem-augusto, que assim grafado, adjetivado, nos remete a um ser humano restaurado à sua dignidade (in: Prefácio, 2009, p. 7).


Na obra, Romério Rômulo dialoga com o poeta Augusto dos Anjos e desenvolve, segundo Maria da Conceição Paranhos: “Temas recorrentes como a loucura, a corruptibilidade do corpo físico, a solidão, a morte buscam sua existência na linguagem, onde ganharão consistência e força de ataque, homem e cavalo” (in: Prefácio, 2009, p. 7).

Em abril deste ano tive o prazer de entrevistar Romério Rômulo em café literário virtual no Novidades & Velharias, cuja entrevista se desenvolveu, basicamente, em torno do Per Augusto & Machina; que, na época, encontrava-se em processo final de editoração. Na ocasião, uma das questões abordadas girou em torno da loucura. A partir dos versos “de quantas nuvens se faz uma loucura? / é construída a mão que bate o prego?”, pertinentes ao poema Uma bravura regenera a noite, interroguei Romério sobre a dialética loucura-racionalidade durante o instante criador, onde o poeta argumenta:


O criador, ou criativo, é aquele que foge do tom, que surpreende. Então, a loucura é um dado. Mas, e se eu consigo organizar essa loucura? O Oscar Niemeyer não organiza, faz prédios e cidades? Parece um contra-senso, um absurdo, e é. Mas, é real. Daí termos situações como o Rimbaud, que aos 19 anos se sentiu esgotado, ou o Niemeyer que, centenário, continua operando. Mananciais e construções, no caso, são diversos. Tumulto e racionalidade, aqui, são íntimos (in: Novidades & Velharias, 19 abr. 2009).


Hoje, lendo os poemas do Per Augusto & Machina em material impresso, a ideia central que me vem à mente, e, que de certa forma confirma minhas primeiras impressões de leitura, é que se delineia, no curso da obra, uma constante intimidade. Intimidade capaz de unir mundos aparentemente opostos, porém complementares: sonho e manualidade, vida e morte, imagística e historicidade, devaneio e intencionalidade; enfim, em o Per Augusto & Machina, parafraseando o poeta das minas gerais, “tumulto e racionalidade atuam íntimos e dividem mistérios”.


Notas


[1] Para saber mais sobre o poeta visite o blog Romério Rômulo e/ou leia a entrevista concedida ao Novidades & Velharias, em abril do ano corrente.

[2] Texto também postado em o blog Novidades & Velharias.


Referências

  • RÔMULO, Romério. Matéria bruta. São Paulo: Altana, 2006.
  • ______. Per Augusto & Machina. São Paulo: Altana, 2009.


hommo erectus

Mulata em rua vermeha, Di Cavalcanti. clique na imagem pra seguir rodando...



- és mulata? inquiria o europeu
entre olhos a brilhar e o queixo caiado.

e como não bastasse o beiço, carnadura lascíva;
os cabelos, carapinha em exuberância,
pôs-se a moça, largos dentes a umbigar.

- ai, que me enganaste! és preta pura, pai do céu!

e quedou-se a lundar, pecar equador abaixo...