Figos cristalizados...





Ela faz doce de figo
despeja a tristeza e as frutas
todas no tacho
Raspa a colher de pau em círculos
Com a delicadeza de quem afaga
Voltas e voltas
também dá seu pensamento
o vapor quente que se desprende
é névoa fina embaçando a realidade
no movimento lento
lembra dos corpos fundidos
nas tardes mornas daquele novembro
perfeitas engrenagens
azeitadas em suor e saliva
aumenta o fogo
incendeiam-se
a pele nunca queima
acelera o ritmo
apura o doce
o aroma da fruta se desprende
seu cheiro a beija em silêncio
seus olhos a descascam inteira
sua boca faz trilha nos montes
suas mãos juram-se no infinito
o ponto final se aproxima
mexe o tacho com mais força e rapidez
mais e mais e mais
derretem-se em um só
derramando-se pelas beiras
apaga o fogo
esfria o tacho
apronta o doce
em finos cristais de açúcar
passa cada figo
cada lembrança
cada arrepio
cada beijo
cada jura
passa também seu coração
cristalizando tudo
nos doces vidros da memória

(Wania Victoria)



CONFIANÇA

Imagem by mail


Pisando em brasas
alinha à terra, caminhos...
abre os braços tal asas
não sente nos pés o ardor.
Na face, o carinho do vento
no peito, emerge o amor
maior do que penso.
Isto se sente, ao abrir
portas, à luz da lua.
Se há lágrima no amor,
há seiva na flor e assim...
insinuo a poesia.
Em mim.