Defronte



E quem é você
para oferecer
conselho?
A ironia
de todo dia
diante do espelho.

Alguém
que já viveu
além do esperado?
O sarcasmo
em pleonasmo
disfarçado.

Ninguém lhe disse
ser tolice
o que pensa?
O desafio
em feitio
de ofensa.

Decerto que não
- respondi secamente -
que não sou de sermão,
mas de ser confidente.


Poema publicado em 10 de setembro no Doce de Lira.

É agora, Maria



e agora, Maria?
não tem mais José
nem teogonia
rompeu-se o anel
da monogamia
e as luas de fel
de parca alegria
( pois é, quem diria...)

você que é tantas
tão cheia de graça,
agarre-se ao tantra
a vida é trapaça
qual queima de estoque
das casas Bahia
avance, tropece
(trespasse, vadia)

sozinha no escuro,
supere, só_ria
a palavra é prata,
silêncio, de ouro,
a lavra te cobre
( te resta a poesia)

bendita Maria
que um raio a parta
conceda alforria
declare-se farta:
liberte-se
(ainda que tardia)

É agora, Maria.

.

* Momentos *


arte : Nanduxa


em momentos absolutamente meus
vejo-me ancorada ás areias do mar
facetas navegam em escunas
sentimentos aportados em dunas

nuvens esculpem no céu
aquilo que reconheço em mim
grãos de areia se agrupam
desenham rostos disformes
que as águas sugam

esquadrinho meu íntimo
encontro-me congelada no tempo
como se fora um ser que as águas salgaram
inerte vida que o mar e o vento emolduraram

Úrsula Avner