A poética [inacabada] de Mirse Souza


Hoje, 26 de julho, a Blogosfera tem grande motivo para comemoração: é o aniversário de nossa querida amiga e poetisa Mirse Souza.

Mirse Souza – residente na cidade do Rio de Janeiro, mulher, esposa, mãe, avó, profissional em contabilidade - é uma das vozes poéticas femininas mais atuantes na Web. Além de publicar, diariamente, em seu espaço poético “Meu Lampejo”, a poetisa mantém sempre atualizadas as visitas e os comentários aos blogs dos amigos poetas, incentivando a todos os que se lançam à produção literária. Ademais, Mirse oferece contribuições em mais dois espaços literários: O gato da Odete e, aqui, no Maria Clara: simplesmente poesia.


A voz poética de Mirse Souza se destaca pela fusão entre paisagens da memória, onirismo e espiritualismo. Realismo, sonho e transcendência se interpõem em suas linhas; onde, por vezes, se evidencia um certo descontentamento temporal presente, mas, simultaneamente, um crescente otimismo na redenção da palavra.

De forma equivalente à obra inacabada de Mondrian, Mirse Souza monta o mosaico de sua criação poética. De poema em poema, as idéias e os estados emotivos da autora vão oferecendo forma a sabores, tons e conteúdos linguísticos. Essa realidade demonstra uma sensibilidade imagística e técnica em evolução contínua e aponta para a visão holística da autora que aglutina uma diversidade de contextos e, ao mesmo tempo, se refaz ao nascer de novo dia.

Tais qualidades contribuem para remeter o leitor à reflexão das coisas transitórias da existência humana e abre perspectivas para a contemplação profunda dos mistérios que permeiam a eternidade: a alma.

Em seleta de textos extraída do blog pessoal da poetisa, o leitor pode observar algumas das características então mencionadas de sua criação poética. Passemos à voz [inacabada] de Mirse Souza:




Candura



Quando criança, em meio a dúvidas

Sempre achava que sabia. Tudo!

Pensava que sabia dos ruídos,

Dos amigos, das rosas, do dinheiro,

Dos silêncios, daquele vazio que sentia...

Só agora, no outono da vida aprendi

Que quanto mais procurava, menos sabia

Agora eu sei que no dia em que alguém

te ama faz um tempo muito bonito

Permeia o mundo uma extrema candura


Assim a gente esquece noites de tristeza

Mas jamais esquece uma noite de ternura.



Manhãs de tempo



Agonizo a contento,

a hora de terminar

o implacável tempo.


Absorta no silêncio, vejo.

A essência do que se foi,

o tempo não transporta

do agora para o depois.



Auto Retrato



Sou a lágrima furtiva,

o engano em forma de vida

Da fotografia, sou o negativo

Na natureza, sou o desvio,

Não sou sombra, sequer o abrigo

Do destro, sou a mão esquerda

Na companhia, sou a ausência

Das palavras, sou o silêncio

Sou o ápice da dor

Sou o espinho que feriu

em forma de coroa, o Criador

Sou a mãe que não vingou

Borboleta sem cor

Perdida num mundo

Imundo de Amor?

Sou a obra inacabada

De Mondrian,

Sou o que ele não acabou.



Mirse, querida amiga e poetisa,


receba os sinceros cumprimentos de respeito, afeto e admiração de todos os que fazem o Maria Clara: simplesmente poesia.


Muitas Felicidades: hoje & sempre. Parabéns!