Sacerdotisa

Nasci com hábitos
de coruja.
Minha garatuja
continha estrelas.
Sozinha,
ergui um templo.
A exemplo do sol,
persegui o equinócio.

Entre o fogo e a água,
sempre fui a brisa.
Pelo poder da palavra,
escolhi-me poetisa.
Não seria
a poesia
um sacerdócio?


Renata de Aragão Lopes


Imagem: arcano A Sacerdotisa, de O Tarô Encantado,
de Amy Zerner e Monte Farber, Editora Siciliano.

* Rotina *


velha caquética

não sabe que já caducou


alma esquelética

no tempo estancou


arrasta seu chale puido

sapatos roidos

corpo moido


nas mãos rugosas

cheiro de mofo


nos olhos fracos

réstia de um brilho fosco


catarata



Úrsula Avner

* imagem disponível no google- sem informação de autoria
obs: o objetivo aqui, longe de enaltecer qualquer preconceito em relação ao envelhecimento, é usar elementos linguísticos relacionados socialmente á velhice, que apontam a rotina como algo sem vigor ou prazer, como em alguns casos de envelhecimento.