Prostrada
Louise Brooks em fotograma do Filme A caixa de Pandora/ Die Büchse der Pandora (Alemanha, 1929), de Georg Wilhelm Pabst.
a caixa de pandora
nina rizzi
i-
se ele me quer, me arrasta
sem pedidos ou cara de maior-abandonado.
se não quero, um bico de pedinte
que conhece seus direitos (inalienáveis)
se forma no canto de seus lábios
e novamente sou arrastada
ao que parece ser minha cama
(e que emverdade nunca será,
uma vez foi da enorme cadela prenhe
que ele deixou num rancho esquecido)
: mais uma vez,
uma vez mais
ele me quer recipiente.
ii-
cadê o meu casulo,
aonde está o útero da mãe
o meu planetaesferabolhamundo?
devo ser guardada e esquecida
como a porra dele
:num recipiente escuro e misterioso
dentro de uma mulher.
vermelho, rosa, preto
mas se(u) pinto não se importa.
*
Cândida prece
À Mirse Souza
Vagava em névoas quando uma voz, ao longe, ecoou.
Envolvendo-a.
Havia horas de angústia: trilhos, pranto, desespero, horror...
Culpava-se.
Perdera o único filho na estação do metrô. Desgarra-se.
Ninguém o viu. Ninguém mais o sabia...
Sua vista escurece.
Ao longe, uma voz, cândida em sua prece, lhe conduz:
“caminhe à luz”... “siga à luz”...
Cai em sono profundo.
É amparada nos braços do filho que, do outro lado, sabia a esperança.
*Texto composto com base em simbolismos experienciados, ontem à tarde, durante “sono”.
**Imagem extraída do Google sem indicação de autoria.