Maria Clara: por Hercília Fernandes


Maria Clara
Clara
Alva
rara Maria.
Ria
Ia
Subia
clara à luz do dia.


Minha cara,
Clara minha!


Doce flauta,
serena,
silencia.
Minha causa
fada minha!

Rara
tão alva
Clara,
tanto bem,
Maria!








Texto extraído do blog "HF diante do espelho" (http://fernandeshercilia.blogspot.com/2008/03/maria-clara.html) by Hercília Fernandes.

Caê não cai: por Marcelo Novaes


Não mais
festivais,
nem praças-da
alegria-alegria.
Nem carnavais,
como aqueles de
antes.
Não mais cirandas,
bandas, nem passeios
ingênuos
nas rodas
gigantes.
Agora, é só play-ground,
Play Center e Bungee
Jump.
Não mais nadar contra a
corrente,
nem voar andar voar flutuar
contra o vento,
sem lenço e sem
patente.
Caê já é terceiro
-tenente,
aspirante a
Coronel
Antonio
Bento.
E dizem que não
cai.
Dizem que não toma
vaia.
Dizem: tomara-que
-caia.
Dizem que ele usou
saia,
mas não usa
mais.
Dizem que é quase
calmo,
quando
fala; mas não gosta de
coro, quando canta
no palco.
Caê é índio
com cara
-pálida:
gosta de
carne
dura,
e pele
clara,
ou
escura.
Não para de
compor, e acha
pérolas raras no mar de
Salvador.
Encontra bolhas e belezas
flutuando no vapor barato,
mama nas tetas das vacas
profanas,
e sai ileso.
Não lhe roubam cheque nem
dinheiro. Tem sorte.
Sei que estica a língua até onde
pode,
quase fala
latim.
Estica e roça na
língua dos
grandes
autores.
Explode eclode implode
sambódromo e
Hollywood.
É sempre a mesma
fera,
na voz dos negros do
Harlem, ou de Elza
Soares.
Desnuda aponta apresenta
tecnologias da
linguagem,
canta pinta e borda
som-e
-imagem,
na ponta da língua,
nos trejeitos,
no vibrato da
voz.
Representa, quando
canta,
cenas de trovador
cosmopolita
antropofágico
tropicalista
hiper-urbano,
evitando clichês,
crayon e giz de
cor.
Prefere óleo e
acrílico, materiais
duráveis ou
definitivos.
Queria mesmo era ser
escultor.
Caê vai encarar toda
ofensa,
defender nos tribunais
o direito de ser estrela,
e não
encaretar.
É mau ator, quando se
aventura:
paródico,
hiperbólico,
parabólico
-camará,
como outro baiano cantor,
que não sabe atuar.
Mas é primo-irmão de Glauber
Rocha, num parentesco de alma.
E canta bem, em espanhol, num filme de
Almodóvar.
E tudo faz pra ficar odara.
Tomara Deus, mesmo,
que Caê
não caia.
Nunca.





Texto extraído do blog “O lugar que importa” (http://olugarqueimporta.blogspot.com/2008/03/ca-no-cai.html) by Marcelo Novaes. Autorizado pelo autor para postagem.