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Temptation - Franz von Stuck
Temptation - Franz von Stuck Finalmente, as férias tão esperadas. Poderia se desvencilhar de tudo e de todos para dedicar-se ao prazer que tanto aguardara. Seu mimetismo a modelara de acordo com os anos de existência numa sociedade maniqueísta. Sua natureza forjada sufocou por muito tempo o desejo latente. Teria agora a oportunidade de decifrar os prazeres sem os escrúpulos morais que a impediam anteriormente de viajar, afinal, tinha o direito de investir em algo que fosse além da obrigação.
"Todo impulso que nos empenhamos em sufocar incuba em nosso espírito e nos envenena. Peque o corpo uma vez, e estará livre do pecado, porque a ação tem um dom purificador. [...] A única maneira de se livrar de uma tentação é ceder-lhe.” (1)
Já no avião, repassou o seu plano passo a passo... nada poderia sair errado! O lugar escolhido para exercer a sua liberdade era perfeito: a “cidade luz”.
Chegando a Paris, instalou-se confortavelmente em um hotel. Após um relaxante banho acompanhado por uma taça de “champagne” vestiu-se da cor do desejo. Determinada, seguiu para o encontro marcado cuidadosamente no mês anterior - não antes de confirmar por telefone a sua presença.
Meia hora após a ligação, encontrou-se com alguns homens e mulheres que compartilhavam a mesma fantasia. Apresentações superficiais... Joana percebeu que todos usavam os sentidos para perscrutar as mensagens subliminares. Apesar da diversidade das gentes, tinham algo em comum: cederam ao apelo lascivo da emoção, transgrediram a barreira cultural.
Em um instante que mais parecia eterno, seguiram lado a lado, emudecidos, extasiados pelo ritual iminente no qual seus recônditos desejos seriam realizados. Era-lhes impossível disfarçar o odor exalado pelos hormônios que lhes percorriam as entranhas.
Chegaram ao destino em transe: atravessaram corredores, andares; as mentes tentavam assimilar o que se passava. Os corpos mal respondiam aos comandos. As pernas trêmulas não mais resistiram e ali, no primeiro andar da ala Denon, sala 13, deleitaram-se. Em êxtase, vivenciaram aquele momento idílico: corpos em sintonia e mentes embevecidas, observando e sendo observados pelos olhos inanimados que acompanhavam o sorriso enigmático de “La Joconde”. O que estaria ela a pensar quando foi imortalizada pelo gênio renascentista?! Prosseguiram com a visita por outras alas do Louvre. No peito, além do descompasso, a certeza de que aquele momento ficaria eternizado em suas almas!
* Escrito originalmente em 06/04/08.
1 Wilde, Oscar. O Retrato de Dorian Gray. São Paulo: Martin Claret Ltda., 2007. Trad. Pietro Nassetti. p. 30.
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