Velada

Foto: Lara


A parafina da vela me queimou
Acaba a luz, e a mesma novela:
Tatear pelo isqueiro
Procurar a dita cuja
Andar pela casa com ela na mão
E a cera a escorrer.
Até pôr a casa toda alumiada...
Melhor ficar com a escuridão
E a hipnose de observar
O brilho tonto no pavio a dançar
Ao leve suspiro da minha ostentação.
Enquanto a luz não volta
Tateio a parafina seca
Grudada à minha pele
As formas em que se derramou
- A geometria -
Deixam-me a imaginar
O fulgor derretendo a vela
Ela, tortas esculturas
No meu corpo a (des)velar.

manoel-ando

Nina Rizzi, colecionando nuvens, Fortaleza/ CE, 2010.

nina rizzi

transbordam em mim reminiscências:
águas que me secam, redundâncias de me sentir.

se o ocaso está repleto de ciscos, reticências,
serei eu mais que o completo vazio?

(guardo meus olhos na sarjeta mais distante e suja)
*

Essa coisa...


Diálogo entre miudezas.


[ é essa coisa lenta
que me faz disparada
alenta fogo lamento
cavalo cavalgada ]

(lent(e)dão: 16 mar. 2010)




Que coisa seria essa?...

(Essa?...)

Essa que me toma inteira e não me governa!?
Faltam-me palavras para descrevê-la...

(Então, melhor, talvez, não tê-la!)

Poderia ser a lua
Se branca, cheia, me levasse à rua.

Poderia ser pássaro encantado
Se, ao lado, figurasse colorido cenário.

Poderia ser a chuva
Se, nela, pousasse véu de brandura.

Poderia ser nota só
Se, notada, valesse um dó!

Poderia ser fogueira
Se, lenha, queimasse a ribanceira.

Poderia, poderia, poderia...

Há algo de urgência
Há algo de silêncio
( in-de-cên-cia )
Algo vão desmedido!

Poderia... 


(Essa coisa: 7 jun. 2007)



*Imagem extraída do Google sem indicação de autoria.