de nina nizzi
Nina Rizzi, Palavra, Cardíaca Palavra. 2005.
bandeiriana, pensando em anna akhmatóva
é certo que ela virá
manto negro a lhe cobrir
os olhos, lábios
e perguntas, ó porque
não antes de nina?
*
bandeiriana, pensando em catarina mina
na prima hora estava apaixonada
e me amaram.
da segunda vez, não me viram:
eu estava amando e doída. o que interessava
era a minha pobreza pra que
se pudesse lambuzar, ser além da lama.
*
bandeiriana, pensando em e. bishop
outra arte:
vê-la a cada dia
- sempre me interessei por seu corpo
sua cara amassada.
*
bandeiriana, pensando em estrigas
falta água na casa
são 00:41, todas as bodegas fechadas
fosse dia, não era solvência no sertão.
vinte comprimidos se me oferecem
tivesse água, não alucinava
era quase, naïf e fractais.
amanhece, como sequência
da ordem natural das coisas.
água, água
um copo, tormenta.
*
bandeiriana, pensando em ratzel
almofala, almofala
quanto de ti falam.
quem te chamara linda,
não me via os olhos d'água
- ria.
*
bandeiriana, pensando em sinhá d'amora
minha sala tântrica de dormir
à entrada da praia.
ali levanto, ali me deito:
marias oceânicas, maresias atlânticas.
sombras do futuro, lombras de luanda.
o teto e o pára-peito.
*
bandeiriana, pensando num mestre de bateria
claro que é amor. são flores que despencam por entre os espinhos
prometendo a chuva-chuva.
é que se acostumaram seus olhos de tanto ser-tão.
e se apaixonam por uma margaridinha que interrompe o cimento-candango
uma alegoria pra nós.
sobrevivemos às injúrias e vilezas. acostumamo-nos.
sim, eu tenho florezinhas nos bolsos. roubei-as da tua parede.
apaixonemo-nus.
*
bandeiriana, pensando em artemisia gentileschi
meus sujos cactos sobre o balaústre da sacada.
de tudo que sentem, só podia ser a areia,
a maresia implacável, um vento leste.
contudo, um bafio ancestral lhes abate pelos espinhos.
sambaqui, água. sertão e litoral
adentro, em derrame. poeira e caos.
meus sujos cactos sobre o balaústre da sacada.
confundem-se com a melodia afônica da minha vidinha civil.
*
bandeiriana, pensando em cecília m.c.
te chamasse irmã, irmão, que sabia eu
além da palavra encardida, a primeva verdade?
te chamasse irmão, irmã, saberia aquém
o eu te amo como um pássaro morto?
te chamasse e aceitasse, amor,
tudo ia e vinha, belobelo, água forte.
uma rua de auroras, união
de todas as verdades. belas, ásperas. in-findas.
*