Elas cantam amor (1)




Incessante sede

Adrianna Coelho



desde que sinto esse aperto

o ar rarefeito

essa sede e essa fome

incessantes


(e o inalcançável tão perto)


meus poemas não são

de amor:


são de tântalo



In: Metamorfraseando



Fenda

Solange Maia



Há um açude em meu peito.

E um dique na minha cabeça.


Em meu peito tem um tanto de amor retido, acumulado, um amor que quer ser dado, ser entregue, ser consumido. Que é terreno fértil, úmido, que é um guardado para ser vivido com alguém muito especial, que é feito água vertendo sem parar, querendo inundar, querendo preencher...


Em minha cabeça há uma determinação lógica que quer manter um pouco de terra seca, que luta para controlar esse tanto de amor fluente, que armazena com a intenção de não faltar, que resiste bravamente às enchentes, e que é a antítese da minha vontade, mas que tantas vezes me permite não afundar.


Mas de uns dias pra cá descobri uma fenda.

E ela tem escorrido mais do que devia...


In: Eucaliptos na Janela




O amor que almejo

Mirse Souza


Se o amor assim me chegasse,

Quisera fosse intenso...

Rasgando almas, denso

Daquele amor que escandaliza

Como o de Abelardo e Heloísa.


In: Meu lampejo




Crisântemos vermelhos

Úrsula Avner



Aproximou-se de mim com serenidade

como um sopro de brisa primaveril

tocou minha face sem fazer alarde

acendeu em meu peito o pavio

tateou suas mãos orvalhadas

pelo meu corpo já cambaleante

sussurrou palavras de amor adornadas

com respiração ofegante

Chamou-me amada de minh´alma

envolveu-me em seus braços com surpreendente calma

lançou-me o olhar do desejo em estilhaços

refletido em espelhos do brilho aveludado

dos crisântemos vermelhos


In: Sempre poesia



9 comentários:

Unknown disse...

Adriana Coelho, é de uma grandeza de estrela, à compor poemas.

Solange Maia, canta através do seu lirismo a terra e o açude com tamanho brilhantismo que se sente a vibração do eu lírico.

Mirse, eu...apenas expressou a verdade. Meu eu unuiu-se ao eu lírico clamando esse desejo apoada em Abelrdo e Heloísa.

Úrsula Avner, minha querida amiga, trouxe em seu lirismo o perfume dos crisântemos em sussuros de amor.

Parabenizo as poetisas, e em relação a mim, me orgulho da escolha pela verdade onde fluiu o eu lírico.

Maria Cara, seu olhar sobre o eu lírico feminino, foi abrasador.

Parabéns, amiga!

Beijos

Mirse

Úrsula Avner disse...

Queridas amigas Maria Clara e Mirse, que emoção ao ver uma de minhas poesias postada neste adorável blog que sempre homenageia muitos poetas e poetisas. Agradeço de coração a homenagem a mim atribuida. Todos os outros poemas publicados são lindos ! Eu tenho pensado já há algum tempo em elaborar uma Antologia Poética, reunindo poemas de várias poetisas do site de poesias do qual faço parte e daqui do blogspot também. Até já tinha pensado num título " Mulheres na janela ". Nem sei se existe este título já, mas pensei na janela como forma de visualizar a poesia, já que janela é a metáfora do olhar humano. Quem sabe não poderemos levar adiante esta idéia ? Existe um site chamado clube de autores ( saiu uma matéria na revista Época ) que edita livros sem custos para o autor. Tem também a Câmara Brasileira de Jovens escritores que edita livros a preços mínimos. Depois podemos falar melhor sobre o assunto. Bjs com carinho.

Maria Clara disse...

Mirse e Úrsula,

me contenta saber que vocês aprovaram o post. Agradeço a presença, leituras e comentários generosos.

Um forte abraço nas duas.

Adrianna Coelho disse...


Maria Clara,

O post está aprovadíssimo, sim!

Gosto de cada um dos poemas aqui.

O casal de Mirse - Abelardo e Heloísa - aguça a minha imaginação (e curiosidade). Será que ela, Mirse, continua?

Adrianna Coelho disse...


Úrsula, gostei da ideia!

Hercília Fernandes disse...

Adriana, Mirse, Úrsula e Solange.

Este bloco de poemas é muito especial, tendo em vista que os poemas ilustram os desejos e as concepções/representações do eu-lírico sobre o amor.

Não saberia dizer qual texto mais me emocionou. Cada voz poética apresenta uma particularidade lírica que nos toca e aquece a alma.

Belíssimos poemas sobre o sentir e o viver da paixão:

o amor tântalo da Adrianna; o coração açude e a cabeça dique da Solange; o querer amar como o casal Abelardo e Heloísa da Mirse e o amor primaveril da Úrsula.

Poemas que nos toca os sentidos e nos transforma.

Parabéns e um forte abraço em todas!

H.F.

Hercília Fernandes disse...

Úrsula,

o blog "Maria Clara: simplesmente poesia" comporta um projeto voltado para futura publicação de livro de Vozes Femininas.

Como já lhe sinalizei em e-mail, pretendo apresentar o projeto às poetisas que integram o Simplesmente Poesia - colaboradoras e convidadas - a fim de viabilizarmos o livro.

Fico muito feliz com a manifestação de seu interesse em participar de uma obra coletiva. Assim como a Adrianna Coelho e todas aqui presentes que se interessarem em aderir ao projeto.

O projeto inclui a "continuidade" através da publicação de volumes. No devido tempo, vocês receberão um material esclarecendo as idéias e metas centrais deste sonho passível de concretude.

Um beijo em todas.
H.F.

Cosmunicando disse...

belos e líricos estes poemas da primeira parte... o sentimento expresso de forma doce. Parabéns a todas as poetas integrantes, é tudo muito lindo.
Parabéns Maria Clara, pela idéia.
abraços

Lou Vilela disse...

Fez-se (o) desejo...

Belíssimos textos! Abertura em grande estilo norteia a série "Elas cantam amor".

Parabéns caras poetisas!