Adrianna Coelho
desde que sinto esse aperto
o ar rarefeito
essa sede e essa fome
incessantes
(e o inalcançável tão perto)
meus poemas não são
de amor:
são de tântalo
Solange Maia
Há um açude em meu peito.
E um dique na minha cabeça.
Em meu peito tem um tanto de amor retido, acumulado, um amor que quer ser dado, ser entregue, ser consumido. Que é terreno fértil, úmido, que é um guardado para ser vivido com alguém muito especial, que é feito água vertendo sem parar, querendo inundar, querendo preencher...
Em minha cabeça há uma determinação lógica que quer manter um pouco de terra seca, que luta para controlar esse tanto de amor fluente, que armazena com a intenção de não faltar, que resiste bravamente às enchentes, e que é a antítese da minha vontade, mas que tantas vezes me permite não afundar.
Mas de uns dias pra cá descobri uma fenda.
E ela tem escorrido mais do que devia...
In: Eucaliptos na Janela
Mirse Souza
Se o amor assim me chegasse,
Quisera fosse intenso...
Rasgando almas, denso
Daquele amor que escandaliza
Como o de Abelardo e Heloísa.
In: Meu lampejo
Úrsula Avner
Aproximou-se de mim com serenidade
como um sopro de brisa primaveril
tocou minha face sem fazer alarde
acendeu em meu peito o pavio
tateou suas mãos orvalhadas
pelo meu corpo já cambaleante
sussurrou palavras de amor adornadas
com respiração ofegante
Chamou-me amada de minh´alma
envolveu-me em seus braços com surpreendente calma
lançou-me o olhar do desejo em estilhaços
refletido em espelhos do brilho aveludado
dos crisântemos vermelhos