Lou Vilela
A mesa posta o choro da vela
um cheiro almiscarado
dois corpos ladeados
lençóis em desalinho:
lembranças que destoam daquele lugar vazio.
Saudades da paixão que gotejava sobre o telhado
escorria pela bica fertilizava a terra.
Mãos tombam sobre a mesa, impotentes.
Abraçam-se os dedos:
- “Seja feita a Sua vontade”...
In: Nudez Poética
Graça Pires
Voltarei sempre às paisagens da tua sombra
enfeitada de madressilvas.
Gravarei o teu nome em todas as árvores,
sem marginalizar as razões da tua ausência.
Cantarei palavras sem espessura,
como moinhos de vento,
ou o frágil sabor da chuva.
Dançarei contigo na periferia da manhã
e direi onde começa e acaba
o secreto destino do silêncio.
In: Ortografia do Olhar
Hercília Fernandes
Cantarei a esse amor
(sempre, quando)
Cantarei a ele, amor maior,
conspiração minha e desengano.
Cantarei nas tardes serenas
e nas águas turvas também.
Cantarei com extrema doçura
a esse amor que só vai e vem.
Cantarei se preciso for
para ninar a dor e o silêncio.
Não sufocar tamanho amor
nem a tarde e o firmamento.
Cantarei sem que mereças
ou, mesmo, que me peças.
Cantarei para que não esqueças
a lua, a chama e a promessa.
Mas calarei quando preciso
(sem choro, sem vela)
Fragmentos do meu riso
fina-flor-estampa na aquarela.
In: HF diante do espelho
6 comentários:
O eu lírico de Lou Vilela, vai preciso docheiro dos lençóis, ao lugar que acolhe os amantes, e Fecha o poema numa oração. Magnífico, Lou!
Graça Pires, tauou árvores em nome da ausência do amor. Seu eu lírico, cantou, dançou e silenciou!
Divino e próprio do feminino lirismo. Parabéns, Graça Pires!
Hercílio, seu eu lírico entoou um canto que se faz ouvir pelos ares de toda a terra. Maravilhoso!
Parabéns, Hercília!
Como vê, Maria Clara, sua flecha foi certeira onde eros alcançaria.
Parabéns, amiga!
Beijos
Mirse
Lindos poemas, lindas canções femininas ! Bjs a todas.
Mirse e Úrsula,
obrigada pela presença, apreciações e gentis palavras.
Um beijo :)
O poema da Lou e da Graça Pires são de uma elegância, de um apurado lirismo que nos aquecem as lembranças e os sentidos.
Lindos demais +++
Um abraço, queridas poetisas!
H.F.
a beleza da saudade, a ausência... a transmutação da dor em poesia.
aqui também um deleite =)
Como bem observou a Mê, saudades e ausências transmutadas em poesia - Um canto apesar de..., tão próprio ao feminino.
Mais um trecho da sinfonia “Elas cantam amor”, tão bem executada pelo “Maria Clara: simplesmente poesia”.
Não poderia deixar de enfatizar a minha satisfação de fazer parte de tão bela seleta, ao lado de pessoas que tanto admiro.
Beijos para todas!
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