Nina Rizzi
- Friedrich Engels, no clássico panfleto O Sr. Eugen Dühring perturba a ciência
- Anti-Dühring -, em que faz, pela primeira vez, e com perícia de mestre,
uma exposição completa e clara do materialismo dialético.
Depois, pensei em maçãs. que talvez me cresse professorinha Ellena. De alunos dos morros, descalços, das terras ocupadas. Sem maçãs. E gosta de maçãs. Que são práticas e não precisam descascar, só comer. E pude as sentir o gosto. Não àquelas arenosas argentinas, mas as fuji que não são asiáticas. Que estalam às minhas mordidas cavalares e sangram doce. Me saltavam suas formas quase redondas, não fossem mais que terra; quase tão vermelhas, não fossem mais que pêra.
Por fim, pensei nos lápis. que, miserável, mais que por condição, só escrevo em papel. Que a maresia dos meus dias acabam com minhas canetas em menos de uma semana, mais tempo que meus papéis. Lápis quadrados. Que pressentia minhas suadas mãos e as fatais escorregadas. 5b, que, então, seria estímulo a mais pra superar tamanha frustração por não pintar.
Mas não vieram as margaridas, que giro sóis que sabe melancolia, apesar de toda extroversão. Que não arrancaria da boa terra a flor só pra me alegrar, escravo da luxúria.
E não vieram as maçãs. Elas prosseguiram sem qualquer mudança mecânica. Continuaram maçãs sem um dia terem sido e tendo deixado de ser. Eram maçãs verdes que se tornaram maduras porque deviam amadurecer, que antes mesmo de estarem maduras, eram maçãs e deviam amadurecer autodinâmicas. e antes foram flores, e antes botões e macieiras na primavera. E caíram, rolaram, apodreceram, se decompuseram liberando sementes que, se tudo seguiu bem - conforme as condições do clima, do solo, a ação recíproca que encadeia os processos -rebentos, depois árvores.
Não, tampouco os lápis vieram. E nem sei desenhar mesmo e as letras desaparecem peremptórias. Os lápis não foram afiados, permaneceram inteiros e talvez nunca tenham existido. A prancha nunca saiu da madeira, que nunca deixou de ser árvore e pôde então florescer e frutificar maçãs. Que não sofreram a (injusta?) justaposição da estranha intervenção humana.
Mas também não fui eu com minha impetuosidade, o pulo, o beijo, as pernas na cintura, braços no pescoço no estrangulamento da paixão. Eu fui vontade. E fui escolha. Eu olhos moles, eu transbordada de turbilhonamento. E finalmente mulher.
Me veio sujeito histórico, 'inda que beloburguês. Cavalo. Com olhos de me enxergar, palavras, e ouvidos de me querer. Sem retratos-metafísica, idealismos ignorantes. Antes, em movimento-cinema, tudo interligado, em processo, transitando ponte em mim. Me principiando, me sendo e me partindo. E me iniciando. Veio mais que beleza e rumores, noite e azul. Anil lenço de me conter o choro. Grande mão de me limpar os lábios caudalosos.
Sim, evidente, antes de sermos nós, somos um. E não somos fixos, mas movimento de contrárias, fim de um processo e começo de outro, sempre em vias de nos transformar e desenvolver. E somos nós. Dialéticos.
*
7 comentários:
Oi Nina, quando comecei a ler me pareceu retornar a minha aula de filosofia, quando discutíamos 'dialética'. Fui olhar os marcadores e lá está Engels, Marx e Materialismo dialético, pronto me situei, realmente estava no meio da filosofia, numa observação do homem, da sua mentalidade, da ciência, das suas relações com o todo que faz parte, em meio aos nossos processos de transformação, continua transformação.
bjs
Que beleza, Nina!
As anterior-idades que nos precedem, em frutos, em lápis em flores e em seres.
Filosófico e profundo, nem por isto de leitura agradável e perceptível.
Encantada fiquei.
Parabéns, NINA!
Beijos
Mirze
E somos nós girassóis loucos a procurar a luz...a dialética...somos dialéticos? Terxto mais porreta...Engels que se cuide. Bj
Suas alusões à realidade por meio de metáforas de fantasia me levam além. Muito bom te ler, Nininha.
Beijos.
Belo olhar filosófico!
Bjs
Entre o que aguardávamos
e aquilo que recebemos,
cá estamos.
"não vieram as margaridas,
que giro sóis
que sabe melancolia"
É, a partir do desencontro,
que passamos a nos encontrar.
Lindo texto, me-Nina,
que se deparou com alguém
que lhe tinha ouvidos pra querer!
(ADORO ISSO!)
Beijo,
Doce de Lira
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