estudo para tela/ rafael godoy
vim como não quer nada
e entrei na noite como se dela tivesse nascido
até ontem não gostava das pessoas do dia
não gostava das cores, do calor
e de tudo que se fazia de dia
entrava na noite e nela me perdia
com os olhos fundos, a cara pálida
encontrava gente com essa mesma cara
às vezes muito maquiadas
e pareciam artistas de cinema-mudo
olhava para elas como se soubesse o que faziam ali
escondidas no fundo dos bares ouvindo blues e jazz
o nariz e os olhos dançando
reconhecia quem era da noite
e quem estava ali vindo do dia
podia pensar que eram felizes
suas roupas brilhavam e brilhavam seus cabelos
falavam dos poetas góticos e dos impressionistas
dos beatniks e do cinema francês
conheciam um bom vinho e a pior cachaça
e pensavam que podiam mudar alguma coisa
neste mundo tão pobre
e mesmo nobres
comiam pão com mortadela.
e eu vim com a noite e nela me escondia
e me encantava com a vida desse seres
e fazia parte desse mundo escuro
de pouca luz e gestos serenos
até ontem gostava desses seres
e podia ser um deles
mas hoje vi a luz do sol
e deixei que aquecesse minha cama fria
28 comentários:
Nossa DRI!
Estou arrepiada como todo ser que vive no dia e lê, sente a noite nos seus versos, e até o cheiro do pão com mortadela. Pão de nobres, pobres...
D+++++++
Você vai sempre além da minha imaginação.
Beijos
Mirse
mais uma boa execução
sem dó
É... Eu também já fui de noites;
Hoje sou dos dias!
Em verdade sou de ambos!
Ando em busca é de alegria.
Que gravura bacana! Pelo amor de Deus! O cara é demais!
Um abraço!
Dri, detonante sua fase atual!
a ilustração, os versos, o fato de também morares em belô - querer mais o quê????
besos
Oi Adriana,
sua linguagem leve e despojada traz neste poema, aspectos importantes do cotidiano humano, além de propor uma reflexão analógica sobre os contrastes, mistérios e também semelhanças entre o dia e a noite,a luz e as trevas, o brilho e o ofuscamento, o branco e o negro e outros termos dialéticos. O fechamento foi brilhante ! Mais uma vez a tela do filhote ilustrou com riqueza o poema. Bj,
Úrsula
"Até ontem...
mas hoje vi a luz do sol
e deixei que aquecesse minha cama fria".
Simplesmente divino, Godoy!
A poesia mesmo entre brumas busca a claridade do dia.
Lindo demais!
Mais um belíssimo poema. Parabéns!
Beijos,
H.F.
Poema bem construído e reflexivo. Gostei do blog de vocês, voltarei mais vezes. Um abraço.
http://submundosemmim.blogspot.com
Dri querida
Até ontem eu entrava na noite e nela me perdia, hoje eu me perdi no dia e adorei sua companhia!
Muito lindo o desenrolar do teu poema e o final é demais... brilha tanto que acaba com a escuridão!
Bjssss
Bela poesia, esse blog nos presenteia com grandes momentos inspiradores.
Passei por acaso e gostei.
Pode ir, se o entender, ao meu blogue e ler "As Sombras".
Voltarei.
Paz e Luz no seu caminho
Agradeço a todos que marcaram presença. É muito importante esse retorno, faz a gente continuar. Beijos.
Agradeço a todos que marcaram presença. É muito importante esse retorno, faz a gente continuar. Beijos.
Pensávamos que podíamos mudar o mundo...
Mudamos? Mudaria o mundo ou mudei eu? A vida segue seu fluxo.
Beijo.
"até ontem gostava desses seres
e podia ser um deles
mas hoje vi a luz do sol
e deixei que aquecesse minha cama fria".
Linnnnnnnnnnnnndo, essa sensação de luz é muito forte, de reviver, renascer... ohhh perfeito!
Lindo mesmo!
bjs
MARAVILHOSO. NÃO SEI SE É UM POEMA RECENTE, TENHO A IMPRESSÃO DE JÁ TÊ-LO LIDO OUTRA VEZ.
TOCANTE.ACERTOU.
BEIJO
Dri, você sempre me emociona!
Fala para o Rafa que admiro muito o trabalho dele.
Beijos
Pérola. Emocionante. Cáustico, docemente.
Dri Godoy,
aprecio muitíssimo
essa sua poesia
meio boêmia...
Lá no "Voz",
já havia reparado
em como fala da noite
com propriedade.
A surpresa
veio recentemente:
já teve um bar! : )
Que delícia, não?
Um beijo
e parabéns pelo poema,
Rê
extraordinário como é cinematográfico...
e...a gente muda mesmo.Não há como não...
muito bom !
bj
↓
até ontem gostava desses seres
e podia ser um deles
mas hoje vi a luz do sol
e deixei que aquecesse minha cama fria
BO-NI-TO!
...
Eu era de pele quase verde (limo da noite)
hoje ao sol meu sorriso coloRIU!
Muito bom reencontrar a LUZ!
Beij☼s Adriana!
A vida muda, da noite para o dia.
Muito bom, Dri!
Parabéns pelo seu aniversário e pelos elaborados versos.
Beijos.
Um filme, Adriana. E, pra variar, me vi em várias cenas. O seu-eu-nosso-lírico.
O último verso é arrebatador e dá um certo conforto, ai, como dá.
um beijo,
Cynthia
Agradeço mais uma vez os comentários tão sensíveis e expressivos. É uma honra a presença de vocês. beijo.
Resiliência para transitar entre mundos, tribos, para perceber que somos mudança constante - ainda que, no fim, algo sempre fique [aquilo que define quem somos, mesmo que sequer saibamos o que seja]...
Belíssimo poema... confesso sou meio cativo da forma [fôrma]... o soneto me encanta mais que outras... mas me enveredo também pelo sendal da liberdade poética e [creio] sei discernir quando vejo um bom poema livre... o seu vai além da expectativas... belo, cadenciado, musical e descreve o quadro das coisas sem esgotar, permitindo ao leitor uma brecha para o imaginar...
Bjaum, Dri!
Adriana,
Ja tinha lido esse poema, e acho pura imagem, consigo ver essa noite das caras do cinema mudo...e vc amiga, se modificou? a luz do sol faz bem, mas a lua, ai, que linda!
Um dos melhores que eu já li, Adriana. Realmente a noite é a nossa casa, porém, o sol pode ser atraente, é tudo questão de ponto de vista.
Lindo. Beijos.
Sei exatamente do que está falando, Adriana.
Andei muito tempo pelas noites, mas a claridade do dia me venceu e convenceu.
De qualquer forma, vez ou outra, passeio pelo sedutor escuro vez ou outra.
Poema dos bons!
bjs
Rossana
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