Henrique Pimenta, sensível a minha adoração pela poesia de Florbela Espanca, me ofereceu dois sonetos, através de email, que dialogam com poemas da bela poetisa portuguesa. Apreciemos as escritas:
Imitando os baixos de Florbela Espanca
Amar, não sei por que, sentir embora
bastante além do verbo de primeira
conjugação, natura a fauna e flora,
a natureza prima, a cabeceira
d’alma que pelos poros incorpora,
dando corpo aos mistérios de maneira
que se atinja a surpresa da cânfora
que as forças revigora por leseira.
Amar, amar... o sentimento mais,
mas o sentido mor menos sentido
e tido sem sentido no queimar
de indiferente gelo o sumo gás,
a glória mista ao tédio repetido:
amar, amar, amar, amar, amar...
(Henrique Pimenta, 22 mar. 2008)
Biografia de Florbela
Dom Sombrio, o biógrafo de Espanca,
Que disse, nunca li, acerca dela?
Dizer o quê, que tinha boas ancas,
Rimava boca à louca? Que esparrela!
Será biografia que desbanca
A lira, melhor o lero da balela,
As fotos da família, se era manca,
Fumante inveterada, se era aquela?
Alguém conhecerá na completude
Um outro que é abelhas em enxame,
Que é lebres e mais lebres, quem é ela?
Ao léu da luz se lança em atitude
De artista a dona lusa no certame
Pelo caótico jardim: lamela.
(Henrique Pimenta, 08 abr. 2008)
Henrique Pimenta é militar e professor. Na Web, o poeta publica seus poemas no blog Bar do Bardo. No espaço se encontram excelentes sonetos e outras formas de composição. Leiamos um pouco mais do Bardo:
O macho neste dia não se esquece
De beijos e de flores e da lua
No céu. Cansei do macho, de ser esse
Clichê para a mulher que continua
No páreo pelo pódio que entorpece.
Eu acho que o meu falo foi a sua
Desculpa feminista para o estresse
De filhos, domicílio e o que conclua
Seu rol de "me fodi", jornada dupla.
Na cúpula do sonho, o desencanto.
Na cópula gostosa, pela culpa
Que pula à perereca frigidona,
Ao menos um pouquinho do meu canto
Picante, para a chama vir à tona.
(Henrique Pimenta, in: Bar do Bardo)
Nota: Soneto publicado no Bar do Bardo, em 08 de março de 2009, Dia Internacional das Mulheres.
12 comentários:
Maria Clara Pimenta, este outro Pimenta agradece a homenagem direta a Florbela Espanca, de quem somos fãs, e a indireta a mais um poeta da blogosfera.
Um beijo.
- Henrique Pimenta
Fico feliz, Pimenta, que tenha apreciado. Adoro a Florbela e a poesia do Bardo.
Forte abraço,
Maria Clara.
Maria Clara, achei lindo esse diálogo poético. Sempre liguei o nome "Flor Bela Espanca" ao pseudônimo de Fernando Pessoa, de quem sou leitora voraz. Desta vez fiquei surpresa, mas isso não fez com que não adorasse essa belíssima postagem.
Beijos, amiga!
Mirze
Belíssimo diálogo, Maria Clara, fez muito bem publicar os sonetos do Henrique!
Parabéns, Henrique. Seus sonetos são lindos e muito bem escritos. Mas, falando da Flor Bela da poesia, não consigo deixar de me lembrar de Fanatismo, espanco ele por aqui...
Fanatismo
Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer a razão do meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!
Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!
"Tudo no mundo é frágil, tudo passa..."
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!
E, olhos postos em ti, digo de rastros:
"Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: Princípio e Fim!..."
(Florbela Espanca).
Maria Clara, parabéns pela postagem. Você realizou uma linda homenagem “dupla”. E esse último texto do Bardo é fantástico, uma flor a parte dentro de tão bela aquarela.
Forte Abraço,
H.F.
Mirze,
fico muito contente que tenha apreciado essa postagem-homenagem. Adoro a Florbela e gosto muito dos sonetos do Henrique Pimenta.
O que é bom deve ser celebrado, sempre!
Forte abraço, poetisa!
Maria Clara.
H.F.
Muito obrigada por vir “espancar” o Fanatismo da “Flor Bela” no Simplesmente Poesia, eu AMO esse soneto!
Obrigada pela visita carinhosa e fartura no comentário.
Forte abraço, minha querida amiga poetisa!
Maria Clara.
Maria Clara,
só tenho que agradecer a possibilidade que me deu de passar a conhecer os sonetos do Henrique Pimenta que são simplesmente fantásticos.
Igualmente tenho admiração por Florbela Espanca, sofredora mulher, para quem o amor era condição intemporal.
Os meus parabéns!
Vicente
Dialogar com outro poeta faz parte da metacriação literária. E também se faz necessária para a própria poesia.
Um abraço.
Adoro a poesia de Florbela. Gostei destes diálogos intertextuais de Henrique Pimenta. Muito interessante a ideia.
Beijos.
AMOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!!!!!!!!!
Olá.Acompanho seu blog com muita atenção e gosto muito.Há um selo para voc~e no meu blog
Vicente, Moacy, Graça Pires, Tainá e James.
Muito agradecida pelas visitas e palavras calorosas. A Florbela é divinal, para mim uma das melhores poetisas da língua portuguesa.
Obrigada por tudo.
Abraços,
Maria Clara.
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