Metade Pássaro
A mulher do fim do mundo
Dá de comer às roseiras,
Dá de beber às estatuas,
Dá de sonhar aos poetas.
A mulher do fim do mundo
Chama a luz com um assobio,
Faz a virgem virar pedra,
Cura a tempestade,
Desvia o curso dos sonhos,
Escreve cartas ao rio,
Me puxa do sono eterno
Para os seus braços que cantam.
A mulher do fim do mundo
Dá de comer às roseiras,
Dá de beber às estatuas,
Dá de sonhar aos poetas.
A mulher do fim do mundo
Chama a luz com um assobio,
Faz a virgem virar pedra,
Cura a tempestade,
Desvia o curso dos sonhos,
Escreve cartas ao rio,
Me puxa do sono eterno
Para os seus braços que cantam.
(Murilo Mendes. In: O Visionário, 1941).
A Mulher Verde
Quando a mulher verde
surgiu,
no meio do fogo que crepitava,
parecia-se mais com
a morte.
Quando a mulher verde
surgiu,
no meio do fogo que crepitava,
parecia-se mais com
a morte.
Seu uivo agudo, escuro,
escarlate,
fez lembrar manada de búfalos
quando foge.
escarlate,
fez lembrar manada de búfalos
quando foge.
O som do desespero:
a espera eterna
do eterno passageiro.
a espera eterna
do eterno passageiro.
A mulher verde no
meio da
lareira,
fez lembrar
o afluente
do Rio Negro,
a trilha por onde
segue a madeira,
derrubada impropriamente,
rumo ao despenhadeiro.
A mulher verde,
em seu uivo e
em seu cheiro de
enxofre,
fez lembrar do verbo
quando sofre o sonho
ausente:
em seu uivo e
em seu cheiro de
enxofre,
fez lembrar do verbo
quando sofre o sonho
ausente:
íris sem
olhos,
tronco sem
membros,
boca sem
dentes,
dorso membranoso como
o de um
lagarto;
timbre e dicção
de dar nos
nervos.
olhos,
tronco sem
membros,
boca sem
dentes,
dorso membranoso como
o de um
lagarto;
timbre e dicção
de dar nos
nervos.
(Marcelo Novaes)
6 comentários:
Oi, Maria Clara!
Beleza!
Muito obrigado!
Não falei que você sabia diagramar melhor do que eu?!Ainda não tenho esse domínio tecnológico...
Ficou muito bom!
Beijos,
Marcelo.
Encantador os dois paralelos . Metade Passaro e Mulher Verde se fundem e formam um uníssono em diferntes tempos.
Parabéns Maria Clara, pela apresentação e beleza dos elementos.
Abraços
Mirze
Qdo o Marcelo postou Metade Pássaro,comentei com ele que era o estilo que eu gostava. Confesso que ao ler Mulher de Verde no Blog dele, vi totalmente diferente. Realmente, o Marcelo tem razão...a forma de diagramar, muda em tudo nossa forma de assimilação. Até gostei da Mulher de Verde Marcelo!
Consegui vê-la de outra maneir5a, pelo outro lado!
Bjux..... no Marcelo e na Maria Clara
Clair
Oi, Maria Clara.
Adorável a sua postagem!
Esse encontro entre Murilo Mendes e Marcelo Novaes fora bastante oportuno. Tanto pelas temáticas desenvolvidas nos poemas, como também pela bela apresentação visual.
As imagens e a disposição dos textos deram unidade ao artigo. Além disso, você promovera a união entre os autores por meio da feliz escolha do título.
Realmente!... o que se vê aqui é a mulher sendo, poeticamente, contemplada pela ótica visionária do artista. Muito belo! Agradecida pela oportunidade de leitura!
Grata também por suas visitas e comentários sempre tão generosos em meus blogs.
Abraços,
HF.
Boa noite amigos.
Para mim foi um prazer realizar essa postagem, fazendo uma ponte entre o poema de Murilo Mendes e A mulher Verde de Marcelo Novaes.
Sou grata ao Marcelo por essas sugestões de leitura que possibilitaram a construção do post.
Agradeço ainda a presença de Mirze e da Hercília (HF). Sejam sempre bem vindas a esse espaço de simplesmente poesia!
Abraços,
Maria Clara.
Ah... Clair também agradeço o seu belo comentário! Sinta-se sempre em casa.
Beijos,
Maria Clara.
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