Clara: Caetano Velloso



Quando a manhã madrugava
calma alta clara
clara morria de amor.


Faca de ponta
flor e flor
cambraia branca sob o sol
cravina branca amor
cravina e sonha.


A moça chamava Clara
água
alma
lava
alva cambraia no sol.


Galo cantando cor e cor
pássaro preto dor e dor
um marinheiro amor
distante amor
e a moça sonha só
o marinheiro sob o sol
onde andará meu amor
onde andará o amor
no mar amor
no mar ou sonha.


Se ainda lembra o meu nome
longe
longe
longe
onde estiver numa onda no mar
numa onda que quer me levar
para o mar de água clara
clara
clara
clara
ouço meu bem me chamar.



Faca de ponta dor e dor
cravo vermelho no lençol
cravo vermelho amor
vermelho amor
cravina e galos.


E a moça chamada Clara
clara
clara
clara


alma tranqüila de dor.






Poema retirado do livro: Palavra & Arte: literatura, gramática, redação (1996).


10 comentários:

Marcelo Novaes disse...

Oi, Maria Clara!
Esse é um texto exuberante, de fato!E você já está sabendo diagramar que é uma beleza...Eu ainda não sei dispor assim, graficamente, as letras na página virtual.

Muito bom!
Aliás, esse é um blog feito com bastante capricho.

Beijos,

Marcelo.

Maria Clara disse...

Obrigada, Marcelo!

Estou apenas procurando valorizar a estética dos poemas, para que o texto não perca o sentindo sonoro e semântico.

Enqto o texto não chega no formato estético que, creio, mais adequado, fico vendo possibilidades!...

Obrigada por sua visita e carinho.
Maria Clara.

Hercília Fernandes disse...

Maria Clara,

gostei tanto desse poema de Caetano e da estética que você apresentou, que me surgiu, repentinamente, a inspiração. Receba, junto com o meu carinho, esses sinceros versos:

"Maria Clara
clara
alva
rara Maria.


Ria
ia
subia
clara à luz do dia.


Minha cara,
Clara minha!


Doce flauta,
serena,
silencia


Minha causa
fada minha!


Rara
tão alva
Clara,
tanto bem,
Maria!"


Beijos, HF.


Texto disponível em:http://fernandeshercilia.blogspot.com/2008/03/maria-clara.html

Maria Clara disse...

Oi HF.

Amei esse texto e, é claro, não poderia deixar de não postá-lo aqui.

Agradeço a sua generosidade poética e visitas contínuas.

Beijos,
Maria Clara.

Anônimo disse...

Nesta hora falta o ar. Tão belos poemas cruzados, contracenando, como num grande abraço de irmãos. A beleza do blog influi sim, e no verde fica a esperança da expansão deste belo começo.
Parabéns!
Abraços


Mirze

Maria Clara disse...

Obrigada, Mirze, por sua visita e pela generosidade em suas palavras.

Sinta-se sempre em casa.

Abraços,
Maria Clara.

Luís Fernando Marozo disse...

Ola Maria Clara!
Adoro essa música do caetano. O modo como ele modernizou a cantiga de amigo (idade média). Caetano utiliza de uma das estratégias das cantigas de amigo (havia a cantiga denamorada que espera seu amor, a cantiga de madre que buscava proteger e guardar a filha, a cantiga de confidente que falava do amor da amiga e a cantiga de narrador (utilizada por Caetano)que falava do amor de uma mulher por alguém distante). Contudo, nesta poema há todo um jogo visual e imagético que faz com que imaginemos a dor dessa espera. Dito isso, gostaria de saber se como a Clara da música também sofres a espera de alguém...
Afinal, tu pedes que te desvendes

Maria Clara disse...

Olá Luis.

Esse poema de Caetano é mesmo sensacional.

Não, não sofro as dores do amor... Muito embora, creia que, de alguma forma, estamos na vida a buscar algo maior.

Abraços e obrigada pela visita.

Maria Clara.

Lou Vilela disse...

Inspiração que gera inspiração! Aqui respira-se ares contagiantes.

Maria Clara,em decorrência de um comentário que Hercília deixou em meu blog, vim sinalizar a postagem de quatro textos infantis e convidá-la para conhecê-los.

Um grande abraço,
Lou

Flávia Muniz Cirilo disse...

adoro essa música!
vou ouvir esse disco amanhã!

bj