obra: mulheres negras de barro
escultor: Irineu Ribeiro
Olha a negra
descendo o morro
cabelo sarará desgrenhado
casa de joão-garrancho
pixaim ninho de guacho
negra fulô
negra do andor
negra do despacho
rebola a negra
barriga de fora
cheiro de alho e cebola
lá vai a negrinha
e mais ninguém
mexe as ancas
vai e vem
negra do beco
negra do morro
Lourdes, Sebastiana
Joana, Maria do Socorro
apanha do marido
apanha da vida
cozinheira lavadeira
faxineira parideira
vida sem eira nem beira
Lá vai a negra feinha
arrasta as chinelas
a caminho da feira
só anda sozinha
mastiga casca de canela
a negrinha brejeira
sofre a negra
mas não se entrega
no esmeril da vida se esfrega
esquece que não é de ferro
é de barro
Úrsula Avner
Menino Deus
-
*Ninguém o viu nascer.*
*Mas todos acreditam que nasceu.*
*É um menino e é Deus.*
Miguel Torga
Recortemos das nuvens
aves brancas que rasguem ...
Há uma semana
14 comentários:
Queridas poetisas e visitantes,
peço desculpas a todos porque deveria ter feito a postagem ontem-segunda-feira, porém fiz confusão acerca do dia a mim designado para as postagens,tendo entendido que seria na quarta segunda-feira de cada mês, o que, no mês corrente, corresponderia ao dia 28-09, ademais, estava muito atarefada ontem e não tive tempo de acessar a net.
Obrigada pela compreensão de todos e espero que apreciem a postagem.
Bj,
Úrsula
Belo poema-lúdico, Úrsula. Excelente escolha!
Apesar de conter fortes conteúdos, chamando a atenção para os preconceitos, injustiças sociais e relações [legitimadas] de poder entre raças e gêneros, o seu texto é abundantemente lúdico. A linguagem diverte e conduz o leitor à reflexão. Ensina sem ditar regras, com alegria, prazer e beleza poética.
Além disso, seu texto possui ricas contextualizações. Poder-se-ia estabelecer paralelos com a famosa "Negra Fulô" de Jorge de Lima. Evidentemente, mantendo as especificidades que cada obra comporta, ou melhor, o seu "antes" e o seu "depois"...
Muito bom, amiga. Para terminar, destaco a última estrofe do poema que é simplesmente fantástica:
"sofre a negra
mas não se entrega
no esmeril da vida se esfrega
esquece que não é de ferro
é de barro".
Parabéns pelo "todo" de sua mensagem. A imagem também é bela!
Beijos :)
H.F.
De uma maneira leve e certeira seus versos traduzem a vida de muitas dessas negras que encontramos em cada esquina e desnuda o preconceito sem usar chavões. Muito belo o poema inteiro e nos identificamos com essa negra que, mesmo com as adversidades, se põe inteira no chão desse país. Parabéns, Úrsula. Beijo.
Úrsula e leitores do blog Maria Clara,
volto para dizer que a confusão sobre o dia de sua postagem é compreensível, já que não temos uma data "fixa" e sim "dia" semanal. O importante é seguirmos a ordem entre os "pares poéticos". Ou seja:
(Segunda)...........(quinta)
Mirse Souza + Adriana Godoy;
Hercília F. + Nina Rizzi;
Lou Vilela + Adriana Karnal
Úrsula Avner + Maria Paula.
Sábados: "Postagem simplesmente poesia".
Eis o cronograma de postagem...
Beijos em todos e todas,
H.F.
Úrsula,
me surpreendeu seu poema, pois fugiste um pouco da tua poesia mais intimista e onírica.Esse poema casual, cheio de palavras 'descalças' dão o tom alegre, musical e ao mesmo tempo crítico do poema.Muito bom.
Úrsula!
Adoro toda e qualquer referência à raça negra. E você a descreveu da mais bela forma! Parideiras, lavadeiras etc...
Muito lindo!
Quanto ao dia de postagem nem eu sabia mais, pois formatei o computador com tudo que tinha dentro.
Então amanhã sou eu ou a Godoy? Ou as duas?
Desculpe Hercília,mas estou confusa sim.
Mais uma vez, Ursula meu beijo carinhoso por esse mimo de poema!
Mirse
Mirse,
nesta quinta-feira é dia mensal de Maria Paula Alvim.
Iniciaremos um novo ciclo poético na "próxima semana". Você posta na segunda (28/09)e Adriana Godoy na quinta-feira. Assim o rio vai seguindo seu fluxo...
Aproveito o comment para comunicar que a poeta Maria Paula esteve participando de um curso nos EUA, mas fará a sua postagem normalmente nesta quinta.
Beijos :)
H.F.
Oi Hercíia,
fico feliz que tenha apreciado o poema cujo objetivo foi mesmo apontar os preconceitos sofridos pelos afro-brasileiros, em particular os do gênero feminino e promover uma reflexão do preconceito de um modo geral, que é sofrido por várias categorias ou grupos sociais. A poesia também incorpora aspectos da cultura dos povos - suas crenças, tradições, costumes, valores etc, por isso, ás vezes, também escrevo poemas nessa linha, fugindo um pouco da minha tônica lírica, " intimista e onírica" como disse a Karnal. Obrigada por seu rico comentário e por estabelecer um paralelo entre meu poema e o do notável Jorge de Lima... Quanta honra ! Bj.
Godoy,
obrigada por sua adorável apreciação. Algra-me ter gostado do poema.
Karnal,
adorei a expressão poética
" palavras descalças" em seu comentário e fiquei meditando sobre o significado dela... Obrigada por seu carinho e quanto ao elemento surpresa, este faz parte da vida de quem poetiza e lança o olhar em várias direções, que é o que tento fazer quando escrevo. Grande abraço.
Mirse,
você como sempre, amável em seus comentários. Muito obrigada pela gentileza de suas palavras. Bj.
Sim, somos todos bonecos de Vitalino no esmeril da vida! Belas metáforas minha cara e admirável "grito".
Gostei da mudança de prisma. Como bem observado, a poesia pode e deve atuar de forma diversificada.
Beijos
Um poema cheio de sensibilidade e muito real.
"negra do beco
negra do morro
Lourdes, Sebastiana
Joana, Maria do Socorro
apanha do marido
apanha da vida
cozinheira lavadeira
faxineira parideira
vida sem eira nem beira"
Adorei.
Um beijo.
Lou,
fico feliz que tenha apreciado o poema e agradeço seu valioso comentário. Bj
Graça,
Muito obrigada pelo carinho de sua visita e comentário tão gentil. Bj.
Úrsula
ossa, que bonito, úrsula. me senti ainda mais neguinha :)
beijo.
Obrigada Nina pelo carinho de seu comentário. Que bom que gostou do poema. Bj.
Oi Úrsula!
Bela e diferente escolha do negro como referencial.
Amo a cultura negra e você dirigiu de forma encantadora, postagem imagens e poema!
Parabéns, amiga!
Beijos
Mirse
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