possuída

estudo para tela/ rafael godoy

a manhã pede um pouco de gosto pela vida
o sol aparece depois de tanta chuva
acontece que o mofo se instalou nas minhas veias
nos meus cabelos nas minhas unhas
o mofo está cobrindo meus olhos
e criou musgo na minha boca
os sons que chegam são quase inaudíveis
tenho medo de ouvir minha voz
e perceber não ser minha
os gritos da guerra estão próximos
e não os ouço
o coração está úmido e verde
o lodo que cobre as paredes e os muros
tomou conta definitivamente de mim

19 comentários:

BAR DO BARDO disse...

lodo e mofo são sinais de vida...

boa construção de sentidos...

eu gostei!

se eu tivesse um filho como o seu, não me faltariam temas para poetar - bela obra, em todos os sentidos (rs).

beijo, adriana godoy!

Unknown disse...

Belíssimo!

Não precisaria dizer que era seu.

Eu assinaria embaixo. Imagem e poenas com suas características. Únicas e lindas!

Beijão amiga!

Parabéns!

Mirse

Lou Vilela disse...

Dri,

Paradoxalmente, sempre há vida em seus cinzas - muita vida!

Tô com o Henrique. As telas do Rafa são inspiradoras!

Bjs

Adriana Riess Karnal disse...

Xará,
Esses musgos, essa deprê, que é isso...passou a chuva.Adorei demais a imagem, como todas de teu filho.bj

Lara Amaral disse...

Adriana Godoy é um surrealismo bem construído de palavras. Excelente poema!

Hercília Fernandes disse...

Belo poema, Adriana.

Adoro essa poética de dias nublados. Intensidade nas brumas, caos na nau frágil...

Desejo que o musgo - este que se instala na boca... - lhe traga outros grandes poemas; como este que você acaba de nos presentear aqui no Maria Clara: simplesmente poesia com o seu coração cheio de vida, ou melhor: úmido e verde.

Parabéns, Godoy. Amei!

Beijos :)
H.F.

pianistaboxeador21 disse...

Muito bom!!! Metáforas e imagens fortes, pegajosas, tristes.
Gostei muito

Úrsula Avner disse...

Oi Adriana,

Amo a melancolia na poesia, sobretudo, quando bem versejada como em seu expressivo poema. Bela
construção poética com ricas metáforas e adornada pela tela do talentoso filhote ! Poema e imagem numa sintonia admirável. Bj.

José Carlos Brandão disse...

Gostei.
O mofo, o limo, o verde - o verde não é a cor da vida? O seu poema está cheio de gosto pela vida. Apesar do lodo ou por isso mesmo - sinto uma flor explodindo do lodo. É a origem da vida.
Um beijo.

Renata de Aragão Lopes disse...

O mofo se instalou
e criou musgo.

"tenho medo de ouvir minha voz
e perceber não ser minha"

Tudo estranhamente inaudível...

Gostei muito!
Tanto do poema, quanto da tela!

Beijão.

Anita Mendes disse...

seu poema me possui.
entrou e correu na veia... ficou na pele.
vc surpreende cada vez mais ,drika.
lindo!
Ps: me lembrou metamorfose de kafka.. vc ja leu?
beijos pra ti, Anita.

Anita Mendes disse...

ps: essa pintura do teu filho ... excellent! vou roubar ela um dia, ok? com a sua permissão é claro!

tonholiveira disse...

*
EMUDECIDO e UMIDECIDO!
*

Belo isso, belíssimo!

Beijos!

sopro, vento, ventania disse...

dar bela forma ao que arde e ao que pulsa, essa é uma característica fabulosa sua.
e esses casamentos perfeitos entre a sua voz e a arte de seu filho são verdadeiros bálsamos pra alma.
bjs.
Cynthia

Fred Matos disse...

"tenho medo de ouvir minha voz
e perceber não ser minha"


No poema, contudo, é inconfundível a sua voz.

Belíssimo.

Ótimo feriado e fim de semana.

Beijos

Talita Prates disse...

Também me sinto mofada
numa frequencia maior que eu gostaria.
Bjo carinhoso, Adriana!

Adriana Godoy disse...

Obrigada a todos, é muito bom ter esse retorno de vocês. Beijo.

tania não desista disse...

adriana,que bonito!
parece o efeito do inverno...
num jardim sem tantos cuidados...
o mofo aderiu aos galhos ,às ervas daninhas pendentes e às raízes expostas no solo e,o musgo cobre a terra de verde.
o resto,é uma melancolia ,talvez sonolenta,cansada,mas prestes a ousar,aproveitar a oferenda do sol.
ao rafael...diga que está entre os
sensíveis pintores
bjos nos dois
taniamariza

Adriana Godoy disse...

Tânia, lindo o seu comentário/poema. Agradeço por mim e pelo Rafa. beijo.