Momento retrô


O velho violinista - Picasso, 1903


"Amor condusse noi ad una morte" Dante, Inferno



o que mais me dói agora
é ver esse infinito amor findado
é não cruzar teu olhar de outrora
agora que me conjugas passado
( perdido, posto, finado)

o que mais me dói agora
da garganta por um nó te prendo
do corpo pelos poros me escapas
agora a vida insone me apavora
( meu sonho, o teu devora)

receio que o que mais me dói agora
é perceber que na madrugada fria
só lembranças me farão companhia
agora que a ausência de ti vigora

no fundo, sinto que o que mais dói agora
é pressentir as propostas sem propósito
consentir na espera que desespera
agora que sei que a paz inda demora

o sonho acabou, te pergunto ciente
como sublimar o sentir que evapora
peço que esclareças antes de ir embora
a mim, que só te sei conjugar presente

.

10 comentários:

Unknown disse...

Lindo poema Maria Paula!

Senti já ter passado pelo que você tão bem transpôs no poema!

O inferno de Dante é um dos livros mais lindos que li, e gostaria que o inferno, caso exista, fosse assim!

Lindíssima a imagem de Picasso sobre o poema.

Bela estréia, amiga!

Parabéns!

Beijos

Mirse

Hercília Fernandes disse...

Belíssimo, Maria Paula. Estréia poeticamente marcante. Parabéns!

Seu "Momento retrô" - acompanhado ao violino de Picasso e inferno de Dante - nos toca todos os sentidos, tamanha a intensidade dos sentimentos manifestos nas imagens poéticas.

De fato, esse infinito amor deve ser cantado, exaltado no presente. O sonho - mesmo [se] findo, passado - é alado, por isso baila em nós.

Linda estréia. Agradeço por trazer tão bela canção ao Simplesmente Poesia.

Um enorme abraço,
H.F.

Hercília Fernandes disse...

Ah, Maria Paula...

volto para dizer que o seu poema fez lindo par com os SONHOS descritos em "Sobre o mundo de dentro", de Úrsula Avner.

Esta semana o Simplesmente Poesia é puro deleite, onirismo. Parabéns às duas!

Beijos :)
H.F.

Úrsula Avner disse...

Cara Maria Paula, sua construção poética denota esmero no uso da linguagem com belas metáforas e a sensibilidade inerente a quem escreve com a alma. Amei a conjugação do tema poetizado com a imagem da tela de Picasso e a citação de Dante. Ficou perfeito ! Além disso , o título ficou bem original. Linda estréia. Parabéns. Bj.

Oi Hercília, obrigada por sua referência em relação ao poema que postei e a vinculação dele com o da Maria Paula. Estou amando integrar este espaço poético de vozes femininas tão ricas.
E por falar em canto, a postagem que preparei para sábado vai trazer justamente esta temática- cantos do gênero feminino... Estamos em sintonia... Coisas de quem poetiza... Bjs.

Hercília Fernandes disse...

Úrsula,

tenho convicção de que a Maria Clara ficará ainda mais efêmera, portanto mais bela, com a sua voz no quadro.

Mais uma vez, agradeço por você e as demais poetisas contribuirem com este espaço.

Um beijo em todas!
H.F.

Adriana Godoy disse...

Beleza de estreia, um poema retrô que marca pelo sentimento, pelo ritmo, pelo tema. Esse blog está cada vez melhor.Parabéns e vamos caminhar juntas nessa.A imagem fez belo par com o texto. Bj

nina rizzi disse...

mo alvim: conjugar amor no pretérito é coisa pra platão, né?!...

gosto, sempre, de te ler, mas hoje gostei especialmente: ver essa sua faceta fugdia dos conscisos.

muito bom :)
beijo.

líria porto disse...

longos ou curtos, teus poemas são sempre bons!!
besossssssssss

Adriana Riess Karnal disse...

Maria Paula,
é um soneto, lindo...sabes tanto dos curtos, cheios de humor, como esses mais longos, cuja sensibilidade aflora.Parabéns pela estreia.

Lou Vilela disse...

Paula,

Excelente mostra de um talentoso trabalho! ;)

Bela estréia!

Um grande abraço,
Lou