Ele recostava o rosto ao violino quando queria afiná-lo, e a pele se enrugava em duas camadas que lhe apertavam os lábios. Era assim que eu fechava os olhos antes de dormir, nunca me deixava sem um movimento que não enchesse o quarto. Amava-nos pelo som, eu e as cordas.
Era pelo cheiro do piano que eu sabia de sua chegada, da madeira que abria as teclas. Pelo toque no banco, o pé a frente ao deslizar as notas, o prelúdio do convite. Não sairia sem antes me soar qualquer coisa no ouvido, cantarolava uma palavra que seria o sopro do meu dia.
Era, assim, engraçado olhar as pedras, elas explodiam de significado. Eu me perguntava quando uma pedra deixava de ser pedra e ter outra composição? Mas, o mundo veio, de repente, dentro da mata. O piano passou a ser só madeira, o violino talho recortado da árvore, e a voz era o tempo do silêncio entre a pedra e a água quando as jogava no lago perto da casa. Não ouve eco no adeus, e me lembrei de Hilda: Ah, sim, como queima o perdê-lo/agora que há de queimar-me a vida inteira.
Era pelo cheiro do piano que eu sabia de sua chegada, da madeira que abria as teclas. Pelo toque no banco, o pé a frente ao deslizar as notas, o prelúdio do convite. Não sairia sem antes me soar qualquer coisa no ouvido, cantarolava uma palavra que seria o sopro do meu dia.
Era, assim, engraçado olhar as pedras, elas explodiam de significado. Eu me perguntava quando uma pedra deixava de ser pedra e ter outra composição? Mas, o mundo veio, de repente, dentro da mata. O piano passou a ser só madeira, o violino talho recortado da árvore, e a voz era o tempo do silêncio entre a pedra e a água quando as jogava no lago perto da casa. Não ouve eco no adeus, e me lembrei de Hilda: Ah, sim, como queima o perdê-lo/agora que há de queimar-me a vida inteira.
27 comentários:
Um mini-conto fantástico, Adriana.
O começo é logo sublime: "Ele recostava o rosto ao violino quando queria afiná-lo, e a pele se enrugava em duas camadas que lhe apertavam os lábios."
Gostei imenso e me comovi quando "a voz foi o tempo do silêncio".
Um beijo.
Concordo com a Graça Pires, seu mini-conto é fantástico, Adriana.
E nele também se destacam atmosferas poéticas. Em cada frase sente-se a beleza da poesia colorindo as linhas da narrativa. Conferindo ao texto melodia, ritmo, harmonia - como é o lirismo quando cantado em versos.
Bela estréia, minha querida, seu texto nos reporta a um país de sonhos, onde vozes de piano e violino se fundem para compor uma "sinfonia de sentidos", mesmo quando a realidade chama à separação e extrai o sentido poético da existência.
Belíssimo. Seu eu-lírico fez das pedras, ou das lembranças das pedras, uma preciosa composição. Parabéns por seu belo texto e entrada triunfal no Maria Clara: simplesmente poesia.
Um forte abraço,
H.F.
Belíssimo!
"Amava-nos pelo som, eu e as cordas"
O som, o amar, os questionamentos pela pedra e a finalização de Hilda.
Fantástico!
Bela estréia amiga!
Parabéns, Adriana!
Beijos
Mirse
Você, por favor, assuma logo o Karnal, - que, aliás, é um sr. achado! - porque os seus leitores merecem uma escritora com sobrenome.
O Felipe, o Tomaz e eu ficamos fantasiando com esse sobrenome, porque ele é forte. Se há três caras em Campo Grande (MS) "pensando" assim...
E o texto foi bem escrito. Eu gostei!
(Não existirá uma escritora chamada Adriana, nunca. Desista! O seu nome completo é Adriana Karnal!!!)
Beijo!
- Pi
concordo com a graça e seu destque do texto é de um lirismo delicioso.
e concordo ainda mais com o bardo, assuma esse karnal, fióta! rsrsrs..
beijos :)
Graça,
Gosto desses silêncios da voz.É bom te ver aqui,querida...
Hercília,
Você sempre com o olhar apurado em seus comentários.Fiquei em dúvida se não deveria escrever um poema, já que o título sugere "simplesmente poesia", mas ah, tem um pouco aqui não é? Fico muito feliz pela tua aprovação.
Mirse,
Pois é, chamei a Hilda H. para finalizar, adoro ela.Obrigada pelos comentários,amiga.
Henrique,
rs, você sabe que meu sobrenome é Karnal de verdade? Então, tá, vou assumi-lo.kkk
Nina,
Fico feliz que tenhas gostado, pois respeito tua crítica...sei que és uma leitora aguçada.bj
e quanto ao Karnal, já assumi..rs
então, adri,
parabéns:
capacidade de síntese, além de requisito, é dom.
MaravilhAdriana.
Beijos
Samuca,
Valeu a força...
Fred,
Obrigada pelo carinho.
A gente lê, e as cenas vêm como as notas de um violino ou de um piano. É como se a música fosse sendo composta aos poucos e as imagens aparecendo, e a gente vai até o fim. Belíssimo, Xará, bela estreia com esse mini-conto tõ bem delineado. Concordo com o Bardo, se eu tive que colocar Godoy, vc também tem que colocar o Karnal.(rs) E assim nós vamos nessa caminhada. Beijo e parabéns.
Adriana xará,
Agradeço o comentário, e sim, eu vou assumir minha personalidade Karnal,rs
Viu, não era opinião solitária, Adriana KARNAL...
Oi Adriana, escrever contos pequenos ou não é sempre um desafio porque importa mais como se escreve do que aquilo que é escrito. Gostei muito do seu mini conto, tem qualidade literária e uma temática que desperta a atenção de quem o lê. Bela estréia ! Bj.
è verdade, concordando com o hp, tem muita adriana por ai e ter uma : KARNAL seria ótimo(rs)
lindo conto!
ah... e sou vascaino por que sou carioca, e torcedor do primeiro brasileiro campeao sulamericano, e 1º time do Rio campeão brasileiro!!! e aqui em campão sou torcedor do endiabrado Colorado!!! E.C.Comercial!!! que vai sapecar a Seleção Sub-20 semana que vem! como já ganhou até do Santos de Pelé!!!
beijos!!
Belíssima estréia, minha cara! Sua sensibilidade prende e encanta!
Beijos,
Lou
Úrsula,
É verdade, não acho muito fácil escrever contos, porque pode se tornar muito cansativo para o leitor, esecialmente aquo no blog...
Felipe,
rs, já assumi o Karnal....que é meu sobrenome na real.E quanto ao futebol, nossa vc é um torcedor mesmo!!!
Lou,
sempre gentil, estamos no mesmo barco aqui...rs
Assumi a minha verdadeira personalidade...rs
Mais do que justa a reivindicação dos amigos, Adriana. "Karnal" é um nome (real ou não) "simplesmente poesia".
Beijos em Todos e Todas que visitam o Maria Clara.
:):):):):):)
H.F.
AMIGOS,
convido-os à leitura do post: A simplicidade "enganadora" na poesia de Adriana Karnal, disponível no blog Novidades & Velharias. O link se encontra na barra lateral deste blog.
Abraços em todos,
H.F.
Olá Adriana!
Lindo conto!
Adorei ler você também aqui.
Parabéns!
Beijos
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