atrasados

arte/rafael godoy

estamos atrasados, meu amor
o rio já correu
o sol já se foi
e o dia ainda não foi embora

perdemos a noite escura
mais negra que os olhos do diabo
perdemos a hora de dançar com as árvores
com seus galhos como as mãos da morte

o vento está morno e fraco
as flores não têm cheiro
perdemos o trem
que atravessa a cidade
não vamos a lugar nenhum
o tempo já passou

ficamos aqui de mãos dadas
como duas crianças perdidas
as ruas são longas
e estreitas as esquinas

estamos atrasados, meu amor
o mundo esmaga os nossos sonhos
lentamente, inexoravelmente

8 comentários:

Domingos Barroso disse...

a gente lê o poema
com os lábios entremecidos
e o olhar distante
...

[ma-ra-vi-lho-so]

Adriana Riess Karnal disse...

Adri G.
me sinto atrada da hoje...adorei o poema.

Quintal de Om disse...

então, façamos do atraso, meu amor
um tempo a mais pro abraço
um tempo maior pro laço
pros detalhes
pros entalhes que não percebemos
quando corremos além
dos ponteiros das horas
quando o nosso passo é maior que
do tempo.

Atrasemos então, amor
pra não morrermos correndo.

Abraços, flores e estrelas...

Breve Leonardo disse...

[grande a urgência do amor, imensos os caminhos que partem e chegam ao lugar onde ele se detém]

um imenso abraço, Adriana

Leonardo B.

Batom e poesias disse...

A sensação de perda do que já não tem volta.
Me deu uma vontade de chorar...

Lindo poema.

bj
Rossana

Úrsula Avner disse...

Bonito poema Adriana. Bj,

Úrsula

Unknown disse...

uma ode a todos os retardos,


beijo

Erica disse...

É... o tempo passa e parece que as relações se hipostasiam... Quem dera o tempo não passasse nunca... Ou pudéssemos resgatar sempre aqueles instantes de ternura ou, ao menos, o sentimento. Mas, não nos foi dada tal graça.
Muito bem cooptado pelas tuas letras as areias que passam pela ampulheta das relações e que não voltam...
Abraço