notas de verão sobre impressões de inverno

fotografia Serviluz sem Fronteiras, in: Overmundo


nina rizzi


: mas que direito tenho a aspirar à poesia menor — amores perros, fugidios, quando a minha saga é tão maior e bruta e o que me foge às mãos é um meio de subsistência?


talvez, caso fossem personagens russos, o frio — tão rotineiro —, lhes teria mais sentido. vivem nesse país tropical, na capital-solar, cidade quente da porra. têm o cartão-postal que qualquer rico invejaria, ah, barra do ceará, praia do futuro, ah! que não lhes serviluz.


vêem suas dignidades feridas, ao pedir o terceiro quarto do peixe que voltará ao mar feito lixo, doença de turistas branquelas. mas que remédio? pense na fome, cabra.


também russos se fossem, melancolia que só, não ousariam ostentar esse riso despreocupado, a mendicância displicente feito cabelos levados pela maresia, a mesma que os salva de dia e provoca os tremores noturnos. de frio de fome de vício.


essa moça, atrevida que é, fala em primeira pessoa. é que, ao contrário das outras, não espera num gringo os degraus que a fará galgar os cumes da gula. pós-de-arroz. não. coloca as cinzas inteiras na lata vazia e a-guarda num bocejo. abre a boca bem larga levando as duas mãos à face cerrando os olhos, como numa oração à morte asteca, índia, nordestina.


: nació para morir.


5 comentários:

Maria Clara disse...

Amigos,

fiz a postagem da Nina porque, em razão de motivos técnicos do Blogger, a poetisa não conseguiu realizar a sua publicação.

Peço perdão pelos contratempos, mas acho que essas coisas no Blogger, nem mesmo Freud para explicar...

Aproveitem a bela leitura da nossa querida me-Nina.

Beijos em todos e todas,
Hercília.

nina rizzi disse...

querida Hercília, obrigada pela postagem e apreciação.

um beijo :)

Úrsula Avner disse...

Nina,

Sua escrita tem um caráter muito singular e é frequentemente intrigante, rica em símbolos linguísticos e imagens que nos fazem refletir sobre a temática proposta. Muito bom ! Bj.

Adriana Godoy disse...

Essa me-Nina é uma coisa. Quando escreve assim faz a gente dar uns nós na cabeça e na alma. Texto porretíssimo.Essa é a Nina Rizzi, a menina da flor. Beijo.

Lou Vilela disse...

Mais um "grito" - Belo e comovente!

Abraços,
Lou